Natal



Natal é tempo de esperança. A cada ano, sempre que chega essa data o corre-corre aos shoppings e lojas assemelha-se a uma corrida de obstáculos. Todos querem comprar algum presente, pois além dos familiares há os amigos ocultos de toda espécie que surgem, e para isso é necessário espremer-se na multidão, levar horas em filas, tudo pelo Natal.
Em meio a toda essa azáfama, ainda há os preparativos para a ceia, a arrumação típica da época com árvores enfeitadas, guirlanda coloridas, pisca-piscas e um sem número de outras coisas indispensáveis à ocasião.

Entretanto, acredito que o mais importante, essencial até, é aquilo que deixamos de fazer e que deveria ser a verdadeira essência natalina: reflexão. Justamente nesse momento em que o fim de um ciclo anual se fecha, é que devemos parar um pouco e refletirmos sobre tudo o que fizemos ou deixamos de fazer, ponderar acerca dos erros e acertos, abrir o coração e permitir que mágoas, tristezas e angústias saiam, já que não são bem-vindas.

Lembremos que Natal é a festa cujo convidado maior é Jesus. Quando Ele nasceu trouxe ao mundo a esperança e a certeza de uma vida nova para a humanidade. A estrela de Belém não brilhou apenas para os Reis do Oriente, brilhou para todos nós, mostrou-nos um novo caminho.

Hoje, 24 de dezembro, véspera de Natal, é o momento certo para iniciarmos uma jornada nova, levando como companheiros o amor, a reflexão, a solidariedade, o entendimento, o respeito ao próximo, a cidadania, a ética, a aceitação, a vontade de lutar por um mundo mais justo, mais digno, mais feliz.

Um maravilhoso Natal a todos com as bênçãos preciosas de Jesus Cristo.

Etérea Eternidade





Quem dera eu pudesse prender em minh’alma
a juventude eterna,
e não sentir que o tempo passa célere pela minha pele, tentando tirar o viço,
querendo roubar a cor dos meus cabelos,
teimosamente pintados de rubro.
E tenta apagar a luz de meus olhos
que insisto em acender a todo instante,
nem que seja com o brilho de uma lágrima.
O tempo quer sufocar a voz
presa em minha garganta,
mas eu a solto com a força de quem tem fé.
Ele pensa que é mais esperto do que eu,
e lança sua força pra abater-me, mas endureço meu espírito e deixo-o alçar vôo livre como o condor.
Meu corpo buscou nos quatro elementos da natureza a matéria imortal, os elementos que tudo formam:
sou, fogo, água, terra, vento
sou humana e divina,
sou mulher e menina.
Ficarei para sempre suspensa entre o céu e a terra
misturada na poeira cósmica do universo,
porque trago em mim a centelha da divindade!

Guerreira




                
A face transparece serenidade.
A calma do olhar, o riso fácil...
A palavra alegre, os gestos amplos.
Mas a alma... Ah! quão diferente!
A alma chora, arrancando do fundo,
do mais profundo, do recôndito do ser,
um soluço que sai rasgando,
dilacerando o coração, apertando a garganta,
porém, sem explodir em lágrimas!
Olhos secos, aparententemente olhando o mundo.
No fundo são olhos que enxergam para dentro,
que vêem uma mulher frágil, sofrida,
solitária, incompreendida, insatisfeita,
triste, doída, cansada.
Cansada de se mostrar guerreira
de estar sempre de arma em punho, 
alerta para não se apanhada
em estado de fragilidade pública.
Pena ter que ser assim.
Tão sertaneja fêmea.
Melhor e mais fácil seria...
Apenas e tão somente
Ser mulher...
           

Humanidade





As luzes piscavam em meio à chuva como pequenos fachos coloridos. Hesitei por uns instantes entre ficar na segurança enxuta do restaurante e sair à rua garoenta àquela hora da noite. Resoluta, levantei a gola do casaco e mergulhei no espaço chuvoso e frio. Voltar para casa era a coisa mais racional a fazer, entretanto algo me impelia a caminhar sem direção certa.

Os rumores do trânsito, abafados pelo caos de meus pensamentos, eram quase inaudíveis. Estavam ali, eu o sabia, uma cantilena chorosa da cidade ainda desperta. Os pingos de chuva escorriam em meu rosto deixando-o gelado, entretanto não me sentia incomodada com isso, ao contrário, eram como carícia leve de mão amorosa.

Ao virar uma esquina avistei a pracinha vazia. Atravessei a rua, sentei-me no banco molhado. Um longo suspiro saiu do meu peito. Fechei os olhos. O que significava viver, afinal de contas? Acordar todas as manhãs, sair para o trabalho, exaurir parte da vida nesse correcorre repetitório? Trabalhar para ter... Ter comida, casa e demais coisas necessárias para se viver dignamente, e milhares de outras, gestadas pelo mundo moderno, dispensáveis até serem adquiridas; escravizantes após tê-las? Viver é isso?

Um gemido leve despertou-me daquele flerte com Kierkegaard. Um pequeno cão, molhado, de olhos tristes, transido de frio, estava ali a meus pés, tentando se proteger embaixo do banco. Éramos os únicos seres naquela praça chuvosa. Peguei-o no colo e de repente era como se tivesse acordado de um sono prolongado. O que eu estava fazendo ali debaixo de chuva, quase meia-noite num banco de praça? Era hora de voltar para casa! Ao olhar para frente, do outro lado da rua estava meu prédio. Inconscientemente eu fizera o caminho de casa.

Naquela fração de segundo eu entendi tudo. Viver é exatamente isso. Acordar, fazer coisas grandes e tantas outras insignificantes, porém necessárias. Trabalhar, sair, consumir o não essencial, mas acima de tudo, sorrir, amar, cantar, divertir-se. Viver era levar para casa um cãozinho perdido, faminto, molhado e dar-lhe nome, carinho, refúgio seguro. Viver é exercitar a nossa humanidade em pequenos gestos.


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