Pensei que com o passar do tempo,
aquela solidão angustiante que rodeava minha vida fosse diminuindo. Por mais
que saísse, conversasse com as pessoas, batesse perna pelas ruas, ao voltar
para casa bastava abrir a porta para sentir aquela sombra densa e fria aproximar-se.
Aquele sentimento de abandono era tão pesado, que curvava meus ombros deixando-me
profundamente cansada.
Havia espaços preenchidos de
ausências naquela casa tão palpáveis, que temia olhar mais demoradamente alguns
cômodos e ver saudades rodopiando em meio a fiapos daquilo que em algum momento
foram minhas alegrias. O passado se esgueirava sorrateiro, tentando anular o
presente, articulando emboscadas que me aprisionassem num mundo que não mais
existia.
De alguma forma, a cada dia eu me
sentia menos concreta, aos poucos minha pele foi ficando transparente, estava
presa numa época inexistente. Certa manhã, abri os olhos e ao fitar minhas mãos
enxerguei através delas a colcha sobre a cama. Ergui o olhar em direção à
janela aberta e percebi uma névoa clara envolvendo o mundo lá fora, tomando
conta de tudo. Passei os dedos pelo rosto, porém não senti meu toque. Embora as
lágrimas rolassem mornas de meus olhos não conseguia sentir o gosto salgado
delas. Sem alarde nem dor, fui me desfazendo e misturando-me àquela névoa
estranha e calma. ‘Desesxisti’...
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