Humanidade

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As luzes piscavam em meio à chuva como pequenos fachos coloridos. Hesitei por uns instantes entre ficar na segurança enxuta do restaurante e sair à rua garoenta àquela hora da noite. Resoluta, levantei a gola do casaco e mergulhei no espaço chuvoso e frio. Voltar para casa era a coisa mais racional a fazer, entretanto algo me impelia a caminhar sem direção certa.

Os rumores do trânsito, abafados pelo caos de meus pensamentos, eram quase inaudíveis. Estavam ali, eu o sabia, uma cantilena chorosa da cidade ainda desperta. Os pingos de chuva escorriam em meu rosto deixando-o gelado, entretanto não me sentia incomodada com isso, ao contrário, eram como carícia leve de mão amorosa.

Ao virar uma esquina avistei a pracinha vazia. Atravessei a rua, sentei-me no banco molhado. Um longo suspiro saiu do meu peito. Fechei os olhos. O que significava viver, afinal de contas? Acordar todas as manhãs, sair para o trabalho, exaurir parte da vida nesse correcorre repetitório? Trabalhar para ter... Ter comida, casa e demais coisas necessárias para se viver dignamente, e milhares de outras, gestadas pelo mundo moderno, dispensáveis até serem adquiridas; escravizantes após tê-las? Viver é isso?

Um gemido leve despertou-me daquele flerte com Kierkegaard. Um pequeno cão, molhado, de olhos tristes, transido de frio, estava ali a meus pés, tentando se proteger embaixo do banco. Éramos os únicos seres naquela praça chuvosa. Peguei-o no colo e de repente era como se tivesse acordado de um sono prolongado. O que eu estava fazendo ali debaixo de chuva, quase meia-noite num banco de praça? Era hora de voltar para casa! Ao olhar para frente, do outro lado da rua estava meu prédio. Inconscientemente eu fizera o caminho de casa.

Naquela fração de segundo eu entendi tudo. Viver é exatamente isso. Acordar, fazer coisas grandes e tantas outras insignificantes, porém necessárias. Trabalhar, sair, consumir o não essencial, mas acima de tudo, sorrir, amar, cantar, divertir-se. Viver era levar para casa um cãozinho perdido, faminto, molhado e dar-lhe nome, carinho, refúgio seguro. Viver é exercitar a nossa humanidade em pequenos gestos.


2 comentários:

Míria.Oliveira disse...

Olá Vera, ainda sou aprendiz. Mas tento deixar aqui um poquinho do que sei. Obrigada por torna-se minha seguidora. Gostei do teu blog, continuarei vendo sempre.Gosto de escrever. Por isso resolvi criar um blog. Bjão

Diego disse...

Gostei! =)

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