Diálogo com Cartola

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Envolta na penumbra da varanda, contemplava os últimos raios do sol levemente dourados.  De algum lugar vinha a voz rouca de Cazuza cantando Cartola. “Ainda é cedo amor/ Mal começaste a conhecer a vida/Já anuncias a hora de partida/ Sem saber mesmo o rumo que irás tomar”. Fiquei pensando se há uma hora certa para sair em busca do amor... Quem, por ventura, poderá saber a hora em que o amor chegará na vida? Impossível determinar dia e hora... O amor chega sem aviso prévio e sem cerimônia alguma vai tomando conta dos nossos espaços, instala-se e deixa-nos sem rumo uma vez que nosso caminho se funde no caminho do ser amado.

“Preste atenção querida/ Embora eu saiba que estás resolvida/ Em cada esquina cai um pouco tua vida/ Em pouco tempo não serás mais o que és”... Quanta verdade! Tomados pela paixão somos incapazes de perceber o quanto um pouco de nós vai se perdendo ao longo do caminho. Cegos de amor o “eu” deixa de existir, há apenas o “nós”... Enxergamos um mundo que não é real. O amor abre um portal onde o racionalismo e a concretude das coisas não cabem.

Na vaguidão daquele pôr-de-sol, fechei os olhos e deixei que a música fosse tomando conta de meus pensamentos. “Ouça-me bem amor/ Preste atenção o mundo é um moinho/ Vai triturar teus sonhos, tão mesquinho./ Vai reduzir as ilusões a pó”. Tomados por tamanha felicidade, não percebemos o quanto frágeis estamos nos tornando. Quando se ama existe uma falsa percepção de que será “para sempre”, entretanto esse sempre nunca tem a mesma medida para o casal.

Esse mundo-moinho sorrateiramente aproveita-se de nossa fraqueza e sorve os sonhos, as ilusões deixando-nos apenas a profundeza do abismo de dor e sofrimento no qual fomos parar. Mesmo que alguém tivesse tentado nos avisar, como Cartola o fez em sua bela canção: “Preste atenção querida/ Em cada amor tu herdarás só o cinismo/ Quando notares estás à beira do abismo/ Abismo que cavastes com teus pés”, nada mudaria. Fomos feitos para o amor. Passaremos a vida levados pelo moinho, caindo em abismos, saindo deles, caindo novamente. É isso que dá sentido a nossa existência. Não me arrependo dos amores que tive, dos que perdi, dos que deixei de ter. Não importa se alguns amei em silêncio, o fato é que soube amar e pude ser feliz – mesmo que em momentos passageiros – e conheci o real sentido da vida.

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